segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"As dores de uma deficiência" (Cont.)

Continuação do Beijós XXI
Texto de Sandra Estêvão Rodrigues

"Há mais. Os que pensam estarem a salvar a sua alma ao dar uma oportunidade a uma pessoa com deficiência, mas que não lhe conseguem estabelecer metas realistas, assumindo que tiveram a sorte de encontrar um génio capaz de superar qualquer adversidade, por mais impraticável que seja. Ou então, “coitaditos, lá estão”, mercê de um grandioso acto de solidariedade, “fazem tão pouco”, mas deixam-nos estar porque só assim serve esse acto como expiação dos pecados. Tamanha é esta miséria que, estando perante um ser da mesma espécie, não o reconhecem.

Em quem penso? Infelizmente, em demasiada gente para nomear aqui, dando apenas alguns exemplos. Penso naquele médico de renome que me fez deslocar mil quilómetros por três vezes, com a promessa de um tratamento espectacular, para ganhar tempo enquanto tinha a coragem de assumir que “não queria magoar a menina”, quando a confrontação com a situação o obrigou a isso, não logrando as suas expectativas de que nos cansássemos enquanto mantinha a sua genialidade intocada. Ou no outro ainda mais famoso que me maltratou, bem como aos que me acompanhavam, porque se sentiu impotente perante o desafio clínico que era a minha doença. Penso naquele professor que me perguntou se as notas dos alunos deficientes também iam até vinte e no acompanhante de estágio que afirmou recear dar-me uma nota elevada, “por não ter correspondência com o que eu poderia fazer como deficiente”. Penso naqueles colegas que não me quiseram no seu grupo de trabalho porque não sabiam como trabalhar comigo, ou no colega de pós-graduação que, ao ouvir da professora a nota de cada um no exame, tendo a mesma nota do que eu, perguntava à professora o porquê da sua nota só ser aquela, depois de me ter sugerido que eu devia estar sossegada porque a nota era bem boa, assim como quem adverte para não me fazer notada antes que a professora se arrependesse de tão sublime gentileza. Penso naquele empregador que medeclarou formalmente inapta para uma actividade, apesar de antes da nomeação formal para tal tarefa, ser eu mesma a desempenhá-la. Penso ainda naquela funcionária de uma instituição de solidariedade social de apoio a pessoas com deficiência visual que se negou a ajudar-me e a mais duas pessoas cegas a chegar a um transporte, sob pretexto de termos de ser autónomas, numa cidade que não conhecíamos. E também na funcionária de vários anos de um serviço que deveria ser de apoio a pessoas cegas, que se extasiava com a utilização de um computador com um programa de leitura de ecrã, questionando se era mesmo verdade que nós conseguimos trabalhar com tal coisa. E como não pensar na defensora de crianças com necessidades especiais que declarou estar a passar mal depois de uma noite em que o seu pesadelo era estar grávida de uma criança com deficiência?

Estes hipócritas miseráveis são a minha dor. Ferem-me com os seus medos mesquinhos, com a sua falsa disponibilidade, com uma pseudo-solidariedade que lhes cai muito bem como imagem social, mas que só atrapalham o nosso bem-estar.

-Dói-me encontrar pessoas que gastam tanto tempo e energia à procura de mais qualquer coisa para se satisfazerem e não perdem o seu precioso tempo a tornar a vida dos outros mais simples. Dói-me porque os que chamo miseráveis não sabem valorizar a sua vida, porque não têm amor para dar, porque querem tudo o que não podem, numa busca desenfreada de uma felicidade que outros hipócritas como eles lhes fazem crer que possuem.

Ai deles, hipócritas! Que pensarão que é viver?

Tenho ainda outra dor: a de saber que pessoas com perdas físicas ou sensoriais se deixam contaminar pela piedade alheia ao ponto de questionar a validade da sua vida, repisando o fantasma da sua inutilidade. É que se torna difícil continuar a valorizarmo-nos quando temos muita gente por perto que nos apontaa desgraça que, de acordo com os seus padrões, temos de carregar.

Olhem os que têm dinheiro, fama, beleza. São felizes? Não sofrem de nenhum mal comum à nossa espécie? Terão certamente momentos bons e momentos maus, talcomo todos os outros. A felicidade, lá o que se queira que signifique, é uma construção da nossa condição humana, uma avaliação pessoal, nada mais.

Qualquer pessoa, independentemente de ter um conjunto de condições físicas, avalia a sua vida de forma muito pessoal. Permitam-nos essa avaliação. Peço aos miseráveis que acham saber o que é a felicidade alheia, mas não encontram o seu próprio caminho, que não tenham a pretensão de saber o que é bom paraos que os rodeiam. Preocupem-se com as próprias misérias e deixem-nos viver a nossa vida. Que não nos infectem com esse vírus maligno da crença na superioridade física.

Se não são capazes de nos ajudar em qualquer pequena tarefa da vida quotidiana, pelo menos não arruínem a nossa auto-estima pretendendo a cada dia lamentar-nos.

Olhem os próprios furúnculos e tratem-nos. Assim, eu e muitos como eu sofreremos menos dores, vivendo a vida a que temos direito com mais confiança e serenidade."

Letra de Sandra Estêvão Rodrigues
Texto enviado pelo leitor Francisco
um desabafo de uma invisual,que é a fotografia do real...
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domingo, 28 de setembro de 2008

2º Passeio Pedestre Viveiros Batista e Vitor Batista-Seguros - 5 (cont.)







































































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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

2º Passeio Pedestre Viveiros Batista e Vitor Batista-Seguros - 4 (cont.)

Continuação do Beijós XXI




Passagem dos caminheiros pelo Poço das Poldras, em fila indiana.












Pequeno almoço.












Por entre vinhedos do Dão.











Ar, muito ar puro.












O caminheiros de 4 patas iam-se resfrescando nas poças de água que a valente chuvada das 6 da matina, deixou.











Alguns já são veteranos nestas andanças, ainda que de tenra idade.













Idem...













Colónia de aranhas.











As paredes do antigo lagar de azeite, estão reforçadas com as raizes de árvores.











Verde intenso, muito fresco.









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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sardinhas, castanhas e tinto do Dão (cont.)

Continuação do Beijós XXI.




É preciso pôr mais caruma, pouca para as castanhas não queimarem. E já agora, é melhor virá-las, ficam mais bem assadas.












E, que tal usar o "crivo da areia" para peneirar as castanhas, lembrou um.
Boa ideia, retorquíram outros.










Enquanto uns trabalhavam, outros discutiam, quiçá, o melhor método para assar castanhas.











Depois de todos estarem saciados, nova foto do grupo.
Olhem a quantidade de castanhas assadas, que sobraram.





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domingo, 7 de setembro de 2008

"Deixem sorrir o mundo" (cont.)




Antiga Escola Secundária de Carregal do Sal.











































































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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Os Nossos Atletas Paralímpicos em Pequim (Cont.)

Continuação do Beijós XXI

(...)
"Dois anos mais novo que Carlos, Augusto Pereira tem uma paixão desmesurada pelo ciclismo. Conta o seu treinador, Henrique Santos, que dias antes da prova em Colorado, EUA, no Mundial de 1998, Augusto olhou para a maneta da bicicleta e, preocupado, achou que estava torta. Tentou endireitá-la e partiu-a. Foi, pela primeira vez na sua carreira desportiva, vice-campeão. Sofre de paralisia cerebral mas nasceu com vontade de vencer.

Augusto vive em Ílhavo, Aveiro, onde é carpinteiro no Centro de Acção Social. Trabalha todo o dia e ainda arranja forças para 60 a 80 km de pedalada. Quer fazer o mesmo que José Azevedo e Cândido Barbosa. 'Até lhe ofereceram um equipamento completo do Benfica. E ele ficou todo orgulhoso. Vestiu-o logo no dia seguinte' – recorda o treinador que o acompanha há 15 anos.

Sara Duarte também sofre de paralisia cerebral. E, na sua vida, os cavalos surgiram, aos sete anos, como terapia (hipoterapia). Desde menina que se habituou a lutar por melhorar a sua condição física. O que tem conseguido graças também à ajuda da mãe, que é especialista em educação especial. Aos 24 anos, Sara passou para o 3.º ano do curso de Farmácia. 'Tem sobretudo dificuldades nas aulas práticas', explica Maria de Lurdes Cardiga, responsável pela Comunicação do Centro Equestre João Cardiga, onde a atleta treina.
Por duas vezes vencedora da Taça de Portugal de Paradressage (ou equitação adaptada), em 2007 e 2008, Sara esteve 15 dias na localidade alemã de Aachen a treinar, no maior centro hípico do Mundo, para os Paralímpicos.
Todos os nossos atletas são a prova de que com esforço se vence as vicissitudes da vida. Bento Amaral sofreu um acidente quando tudo o resto lhe sorria.

Não praticava surf como os outros: com prancha. 'Apanhava boleia' das ondas da Leça da Palmeira. Num dos saltos bateu com a cabeça no fundo e partiu a quinta vértebra cervical. Tinha 25 anos. Seis meses hospitalizado obrigaram-no a adaptar-se à sua nova condição: estava tetraplégico.
Bento adaptou à cadeira de rodas e voltou a sair à noite com os amigos. Um ano após o acidente, fez a cadeira que lhe faltava para acabar o curso de Engenharia Alimentar. Ia poder realizar o sonho de ser enólogo – tal como é, aos 39 anos, provador de vinhos no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
Parecia condenado a não voltar a fazer vela. O seu desporto de infância. Até que, em 2001, conheceu o australiano fabricante de barcos de vela adaptados a pessoas com deficiência. E começou a treinar no Clube de Vela Atlântico de Leixões, apenas ao fim-de-semana, três a quatro horas. No seu barco, Bento posiciona-se ao centro, preso por um cinto de segurança, e controla-o através de uma alavanca mecânica. Nos Paralímpicos compete em dupla com Luísa Silvano, de 49 anos. Tudo na vida do velejador se adaptou à sua nova condição. A família foi fundamental e hoje conta com o irmão como seu treinador e a mulher como sua companheira. 'Apesar das dificuldades, consigo ser feliz e espero que outras pessoas, em circunstâncias iguais, também possam ser.'
(...)

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008