Continuação do Beijós XXI Do Prefácio: «A identidade nacional faz-se a partir da memória, mas a memória portuguesa é estranhamente selectiva. O historiador Joaquim Fernandes, neste seu livro bem documentado sobre os "portugueses esquecidos", vem lembrar-nos muitos nomes que, apesra de o merecerem, não têm conseguido passar no crivo da nossa memória colectiva. As razões serão as mais variadas. Mas talvez a mais comum seja o facto de grande parte desses notáveis se terem ausentado do seu país natal (ou permanecido ausentes do país natal de seus pais). Muitos deles perseguidos na sua própria terra foram para longe e ficaram longe na nossa memória. Outros ficaram por cá, desafiando condições difíceis, mas foi como se tivessem ido para longe. Também foram injustamente ignorados.» Da Introdução: (...) “Invocamos neste inventário – que não poderia ser definitivo, antes ilustrativo – o tríptico em que assenta o afrontamento e a incompreensão da sociedade portuguesa perante muitos criadores e pensadores da diversidade científica e cultural, das heterodoxias ideológicas e religiosas: errância, ignorância,intolerância, definem, a nosso ver, os nódulos conflituais que resulta(ra)m do cruzamento entre as minorias mais inconformistas e o corpo maioritário da nação. Pretende-se com esta divulgação histórica recuperar a memória de um longo cortejo de portugueses cuja obra, vilipendiada ou cerceada por obstáculos ideológicos vários, se diluiu nas ruínas de uma injusta amnésia colectiva. De uma forma didáctica, este espaço visa ajudar à formação de uma opinião leitora mais crítica que propicie novos espaços para a tolerância, incentive o reforço da nossa auto-estima comum e incorpore um conhecimento mais justo dos préstimos da cultura científica portuguesa para a constituição do saber universal. (...)”
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
"Os Portugueses Esquecidos" (cont.)
terça-feira, 11 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
1 de Novembro - Dia de Todos os Santos (Cont.)
Continuação do Beijós XXI
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Local da morte de Armindo Coelho de Moura
Este é o local onde Armindo Coelho de Moura foi abatido. Na manhã seguinte, era grande o corropio de lisboetas que queriam ver o local da tragédia, como se vê na foto da época, em baixo. Em 1924, a R. Serpa Pinto passaria a chamar-se R. Leva da Morte, mais tarde R. 16 de Outubro, retomando a designação de Serpa Pinto em 1937. | |
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Nota oficiosa
Publicada no DN a 17 de Outubro de 1918.
«Hontem à noite, pelas 21 horas, saiu do Governo Civil, com destino à estação do Cais do Sodré, uma força de 240 guardas, devidamente comandada, que ia incumbida da condução e escolta de 153 presos políticos destinados aos calabouços dos fortes do Campo Entrincheirado. Tomadas as necessárias precauções, a coluna pôs-se em marcha precedida de um pelotão, como guarda avançada, e seguida de um outro, como guarda de retaguarda. Ao voltar da Rua de Serpa Pinto para a Rua do Ferragial de Baixo, foi a força atingida por bombas e tiros, que partiram de ambos os lados do cruzamento daquelas ruas e de algumas janelas dos prédios próximos, ao mesmo tempo que alguns presos, de entre estes o visconde da Ribeira Brava, atacavam os guardas e se punham em fuga, matando um daqueles e ferindo muitos outros e os chefes comandantes da guarda avançada e da coluna que conduzia os presos.
Imediatamente uma parte da força rompeu fogo contra os grupos assaltantes e vários presos que debandaram, deixando estendidos alguns, ao mesmo tempo que os outros guardas faziam recolher ao Ginásio Clube e à garagem do Governo Civil os presos restantes.
Da polícia ficou um morto e feridos, na sua maior parte por estilhaços de bombas, os chefes Alves, Dias e Couto e 29 guardas; dos assaltantes foram mortos 6, dos quais já estão reconhecidos o visconde da Ribeira Brava e Armindo Coelho de Moura, ex-agente da investigação, e receberam ferimentos, alguns de gravidade, 31 civis.»
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Alargamento da estrada nacional nº337, Beijós - Cabanas de Viriato (Cont.)
Continuação do Beijós XXI
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
"As dores de uma deficiência" (Cont.)
"Há mais. Os que pensam estarem a salvar a sua alma ao dar uma oportunidade a uma pessoa com deficiência, mas que não lhe conseguem estabelecer metas realistas, assumindo que tiveram a sorte de encontrar um génio capaz de superar qualquer adversidade, por mais impraticável que seja. Ou então, “coitaditos, lá estão”, mercê de um grandioso acto de solidariedade, “fazem tão pouco”, mas deixam-nos estar porque só assim serve esse acto como expiação dos pecados. Tamanha é esta miséria que, estando perante um ser da mesma espécie, não o reconhecem.
Em quem penso? Infelizmente, em demasiada gente para nomear aqui, dando apenas alguns exemplos. Penso naquele médico de renome que me fez deslocar mil quilómetros por três vezes, com a promessa de um tratamento espectacular, para ganhar tempo enquanto tinha a coragem de assumir que “não queria magoar a menina”, quando a confrontação com a situação o obrigou a isso, não logrando as suas expectativas de que nos cansássemos enquanto mantinha a sua genialidade intocada. Ou no outro ainda mais famoso que me maltratou, bem como aos que me acompanhavam, porque se sentiu impotente perante o desafio clínico que era a minha doença. Penso naquele professor que me perguntou se as notas dos alunos deficientes também iam até vinte e no acompanhante de estágio que afirmou recear dar-me uma nota elevada, “por não ter correspondência com o que eu poderia fazer como deficiente”. Penso naqueles colegas que não me quiseram no seu grupo de trabalho porque não sabiam como trabalhar comigo, ou no colega de pós-graduação que, ao ouvir da professora a nota de cada um no exame, tendo a mesma nota do que eu, perguntava à professora o porquê da sua nota só ser aquela, depois de me ter sugerido que eu devia estar sossegada porque a nota era bem boa, assim como quem adverte para não me fazer notada antes que a professora se arrependesse de tão sublime gentileza. Penso naquele empregador que medeclarou formalmente inapta para uma actividade, apesar de antes da nomeação formal para tal tarefa, ser eu mesma a desempenhá-la. Penso ainda naquela funcionária de uma instituição de solidariedade social de apoio a pessoas com deficiência visual que se negou a ajudar-me e a mais duas pessoas cegas a chegar a um transporte, sob pretexto de termos de ser autónomas, numa cidade que não conhecíamos. E também na funcionária de vários anos de um serviço que deveria ser de apoio a pessoas cegas, que se extasiava com a utilização de um computador com um programa de leitura de ecrã, questionando se era mesmo verdade que nós conseguimos trabalhar com tal coisa. E como não pensar na defensora de crianças com necessidades especiais que declarou estar a passar mal depois de uma noite em que o seu pesadelo era estar grávida de uma criança com deficiência?
Estes hipócritas miseráveis são a minha dor. Ferem-me com os seus medos mesquinhos, com a sua falsa disponibilidade, com uma pseudo-solidariedade que lhes cai muito bem como imagem social, mas que só atrapalham o nosso bem-estar.
-Dói-me encontrar pessoas que gastam tanto tempo e energia à procura de mais qualquer coisa para se satisfazerem e não perdem o seu precioso tempo a tornar a vida dos outros mais simples. Dói-me porque os que chamo miseráveis não sabem valorizar a sua vida, porque não têm amor para dar, porque querem tudo o que não podem, numa busca desenfreada de uma felicidade que outros hipócritas como eles lhes fazem crer que possuem.
Ai deles, hipócritas! Que pensarão que é viver?
Tenho ainda outra dor: a de saber que pessoas com perdas físicas ou sensoriais se deixam contaminar pela piedade alheia ao ponto de questionar a validade da sua vida, repisando o fantasma da sua inutilidade. É que se torna difícil continuar a valorizarmo-nos quando temos muita gente por perto que nos apontaa desgraça que, de acordo com os seus padrões, temos de carregar.
Olhem os que têm dinheiro, fama, beleza. São felizes? Não sofrem de nenhum mal comum à nossa espécie? Terão certamente momentos bons e momentos maus, talcomo todos os outros. A felicidade, lá o que se queira que signifique, é uma construção da nossa condição humana, uma avaliação pessoal, nada mais.
Qualquer pessoa, independentemente de ter um conjunto de condições físicas, avalia a sua vida de forma muito pessoal. Permitam-nos essa avaliação. Peço aos miseráveis que acham saber o que é a felicidade alheia, mas não encontram o seu próprio caminho, que não tenham a pretensão de saber o que é bom paraos que os rodeiam. Preocupem-se com as próprias misérias e deixem-nos viver a nossa vida. Que não nos infectem com esse vírus maligno da crença na superioridade física.
Se não são capazes de nos ajudar em qualquer pequena tarefa da vida quotidiana, pelo menos não arruínem a nossa auto-estima pretendendo a cada dia lamentar-nos.
Olhem os próprios furúnculos e tratem-nos. Assim, eu e muitos como eu sofreremos menos dores, vivendo a vida a que temos direito com mais confiança e serenidade."
Letra de Sandra Estêvão Rodrigues